Blog da Galatéia

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... “Eu adoro todas as coisas E o meu coração é um albergue aberto toda a noite. Tenho pela vida um interesse ávido Que busca compreendê-la sentindo-a muito. Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo, Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas, Para aumentar com isso a minha personalidade. Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio E a minha ambição era trazer o universo ao colo Como uma criança a quem a ama beija.” Álvaro de campos

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sábado, 26 de dezembro de 2009

Victor Hugo


Feliz 2010 para todos!
Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar

Victor Hugo

Beijos muitos!!!!!!!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lispector


Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!

Clarice Lispector

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mário Bortolotto


Por favor...

Nunca mais atirem no dramaturgo!

Ele está voltando!


Beijokas no coração valente!


A foto foi roubada honestamente do Blog do Mário Bortolotto -http://atirenodramaturgo.zip.net/

domingo, 6 de dezembro de 2009

Clarice Lispector

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Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Clarice Lispector

Beijokas felizes!!!!!!!!!!!! :)

sábado, 21 de novembro de 2009

José Saramago




Levantou-se então um grande vento que varreu
de estrema a estrema entre o mar e a fronteira a
terra dos homens

Durante três dias soprou constante arrastando
as nuvens dos incêndios e o cheiro da carne morta
dos invasores

Durante três dias as árvores foram sacudidas
mas nenhuma arrancada porque este vento era igual
a uma mão apenas firme

As carcaças dos animais mecânicos rolavam pe-
las planícies como arbustos desenraizados e tudo era
arrastado para longe para os países onde os pesade-
los nascem e o terror

Depois choveu e a terra ficou subitamente verde
com um enorme arco-íris que não se desvaneceu
nem quando o sol se pôs

Nessa primeira noite ninguém dormiu e toda a
gente saiu das cidades para ver melhor as sete cores
contra o fundo negríssimo do céu

E houve quem chorasse de joelhos na terra
branda nas ervas que rescendiam do vertiginoso
cheiro do húmus

E houve quem ininterruptamente cantasse uma
extática melodia não ouvida antes que era o longo
suspiro soluço da vida que nascendo se sufoca plena
na garganta

E pelos campos fora arderam fogueiras altas que
fizeram da terra vista do espaço um outro céu
estrelado

E um homem e uma mulher caminharam entre a
noite e as ervas naturais e foram deitar-se no lugar
precioso onde nascia o arco-íris

Ali se despiram e nus debaixo das sete cores fo-
ram toda a noite um novelo de vida murmurante so-
bre a erva calcada e cheirosa das seivas derramadas

Enquanto longe no mar o outro ramo do arco-
-íris mergulhava até ao fundo das águas e os peixes
deslumbrados giravam em redor da luminosa coluna

O dia amanheceu numa terra livre por onde cor-
riam soltos e claros os rios e onde as montanhas
azuis mal repousavam sobre as planícies

A mulher e o homem voltaram à cidade dei-
xando pelo chão um rasto de sete cores lentamente
diluídas até se fundirem no verde absoluto dos
prados

Aqui os animais verdadeiros pastavam erguen-
do os focinhos húmidos de orvalho e as árvores
carregavam-se de frutos pesados e ácidos enquanto
no interior delas se preparavam as doce combi-
nações químicas do outono

Entretanto o arco-íris tem voltado todas as noi-
tes e isso é um bom sinal


Saramago



Beijokas coloridas!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Clarice Lispector


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector


Beijokas

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Vinicius de Moraes


Para Uma Menina Com Uma Flor

Vinicius de Moraes

vinicius de moraes

Para uma Menina com uma Flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha
- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.


Beijokas

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Martha Medeiros


Tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar.

Martha Medeiros

beijokas felizes!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Galatéia


Tudo igual

Geisy eu bem te avisei:
- Rosa choque não!!!
- Abaixa a barra desse vestido!

Você não quis ouvir...
Foi prá lá cheia de pernas...
Os outros cheios de olhos...


Invejosos de plantão
Seguiram seus passos...
Subiram a rampa...

A noite não virou balada
Sobraram olhos vermelhos...
Pernas caladas...

Geisy, escuta só:
- Qualquer dia desses...
Você me empresta esse vestido?

por Galatéia

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cristiana Soares


Pequena história de um amor burro

“Só acredito que você me ama quando estou dentro de você”. E ela ficou pasma ao ouvir isso. Ela que achava que já tinha dado todas as demonstrações possíveis de amor. Verbalizado, inclusive, várias vezes. Mas ele não acreditava. Só quando estava dentro dela.

Eles tiveram filhos, que ela abraçou como causas nobres. Ele a criticava por ser uma mãe intensa. Por não ter mais só ele no mundo para amar. Ele começou a se tornar ferino, mas ela ainda o amava mesmo assim. Pelos momentos idílicos. E porque o amor não vai embora de um dia para o outro, mesmo quando a falta de respeito vem sem aviso, como susto que se prega.

Ele a traiu para chamar sua atenção. Ele negou socorro para provar que estava certo. Ele a despejou de casa para que ela se submetesse. E contra a sua vontade, enfim, ela optou por sair daquele filme, que nunca foi dela. Também para produzir uma história mais bonita para os filhos. Pela justiça mundial e porque sim. Porque ela era insubordinada.

Ele perambulou, bebeu, comeu muitas mulheres. Pediu para voltar. Foi insano em sequências. Acabou em direção oposta ao seu maior desejo.

Ela, livre, lutou sozinha pela sobrevivência. É difícil ser livre.

Ele continuou a odiá-la porque a amava.

Fim.


by Cristiana Soares - http://www.interney.net/blogs/cristalk/

Cristiana é redatora e escritora. Autora do livro "Por que Heloísa?", Companhia das Letrinhas.



Beijokas Cris!!! E mais uma vez, obrigada por vc escrever!!!





sábado, 19 de setembro de 2009

SKANK


Sutilmente
Skank
Composição: Samuel Rosa / Nando Reis

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

***


...adorei a música... preciso aprender a colocar os vídeos aqui... beijokas a todos!:)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fabio Rocha


VICE-REI

Eu sempre estendi as mãos
para as borboletas...

Abria os braços
para o passado saudoso...
para o futuro sonhado...
mas nunca tocaram em mim.

Hoje, fiquei imóvel
e uma pousou no meu pé.

Fabio Rocha www.fabiorocha.com.br

(do livro VICE-REI)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Drummond


"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca."


Carlos Drummond de Andrade



Fui e voltei!

ó eu aqui!:)

Beijokas

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O crime do professor de matemática


Adoro Clarice Lispector.
No livro "Laços de Família" existe um conto que eu já lí muitas vezes. O nome do conto está lá no título da postagem.
Aqui vai um pedacinho divino para vocês:


"Às vezes, tocado pela tua acuidade, eu conseguia ver em ti a tua própria angústia. Não a angústia de ser cão que era a tua única forma possível. Mas a angústia de existir de um modo tão perfeito que se tornava uma alegria insuportável: davas então um pulo e vinhas lamber meu rosto com amor inteiramente dado e certo perigo de ódio como se fosse eu quem, pela amizade, te houvesse revelado. Agora estou bem certo de que não fui eu quem teve um cão. Foste tu que tiveste uma pessoa."


Um grande beijo!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cecília Meireles


.. CANÇÃO ...

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

Cecília Meireles


Beijinhos de borboleta prá todos!:)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Respire!


Diante de qualquer problema que lhe pareça sem solução, tome uma atitude inteligente, a seu favor:RESPIRE...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Álvaro de Campos


Álvaro de Campos
Reticências
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra.

...


...Uma ótima semana a todos!!!!


Beijokas

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Gibran Khalil Gibran



"Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim"...
Gibran

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Eduardo Alves da Costa


NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI (Fragmento)
(Eduardo Alves da Costa)

(...)
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante; mas manhã,
diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó
à porta do templo e me pedem que aguarde
até que a Democracia se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

(...)


Lí numa comunidade... achei perfeito...

Beijokas

terça-feira, 7 de julho de 2009

Clarice Lispector



"Sou uma filha da natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo."


Clarice Lispector

Beijokas prô cês!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

AMOR - ai lovi iu!!!!!!!


Casamento

"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil", "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva."


Adélia Prado

domingo, 5 de julho de 2009

Conselho supimpa!


"Quando sentir o desejo de provocar dor, ódio, inveja, ou mêdo em alguém, lembre-se de que é apenas o seu próprio fantasma interior querendo olhar-se no espelho e rir da própria feiúra...mas por outro lado, também é muito difícil não ser um espelho."

Jan Robba


Bom domingo pessoal!!! Eu tenho feijoada na casa da sogra... show de paraquedismo, balões e corrida de bicicleta! À noitinha vou no circo!!!

Beijokinhas!!! ...e divirtam-se!

sábado, 4 de julho de 2009

Martha Medeiros


"Quem você pensa que é?

perguntou pra mim de queixo em pé...

Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.

Martha Medeiros

Machado de Assis


"A Melhor definição do Amor não vale um beijo."


Bom sábado!!!

...e beijokas para todos!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Clarice Lispector


..."Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma." Clarice Lispector

Beijokas

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quem é Jan Robba?


Jan é um amigo virtual... conheci nas comunidades orkutianas e desde então estou sempre lendo suas grandes sacadas. Tenho o Jan como um homem inteligente e de bem com a vida... é essa a imagem que ele me passa... psicólogo formado sempre tem uma palavra certa para as horas incertas - mesmo que seja dentro da roupa de algum dos seus fakes... carismático como ele só, conquista os coraçõezinhos das meninas fácil, fácil... rsrs... muito, mas muito mesmo, bem humorado - menos na segunda-feira pois ninguém é perfeito... rsrs Jan é um defensor da vida e do planeta... gosta de rock, é baterista de uma banda caseira e feliz... um grande escritor... um poeta... e por isso, de vez em quando, vou reproduzir aqui no meu blog alguns de seus escritos... assim estou apresentando aos meus dois leitores (Sophie e Leo) um pouquinho de quem é Jan Robba... e agradeço publicamente por ele ter me deixado usar seus escritos no meu humilde mas amado blog... Beijokas para todo mundo!!!

Tudo bem?


Tudo bem agora
nenhuma novidade mundo afora
tudo está tão certo
que até neste deserto encontro a solidão

No final da história
há sempre um certo lapso de memória
perigo é estar tão certo
é devorar num beijo todo esse tesão

Tudo está por fora
o corpo, a casca, o frasco estão por fora
perigo está por dentro
o mêdo está por dentro do seu coração

Corre, não demora
viver é não perder o Quem da história
de olhos bem abertos
fazer o que é certo e saber dizer não.

Jan Robba

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Descobri Myléne Valente!


...e suas lindas aquarelas....

Vejam aqui: http://www.myvalente.com/myvalent.html

por Galatéia

...


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

N U V E N S



No dia triste o meu coração mais triste que o dia... Obrigações morais e civis? Complexidade de deveres, de consequências? Não, nada... O dia triste, a pouca Vondade para tudo... Nada... Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol (Também estive ao sol, ou supus que estive), Todos tem razão. Ou vida, ou ignorância sintética, Vaidade, alegria e sociabilidade, E emigram para voltar, ou para não voltar. Em navios que os transportam simplesmente. Não sentem o que há de morte em toda partida, De mistério em toda chegada, De horrível em todo novo... Não sentem: por isso são deputados e financeiros, Dançam e são empregados do comércio, Vão a todos os teatros e conhecem gente... Não sentem: para que haveriam de sentir? Gado vestido dos currais dos Deuses, Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se... Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda Para o mesmo destino! Vou com ele sem o sol que sinto, sem, vida que tenho, Vou com ele sem desconhecer... No dia triste o meu coração mais triste que o dia... No dia triste todos os dias... No dia tão triste.. Álvaro de Campos

terça-feira, 30 de junho de 2009

Prá começar bem...


" Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste. Saramago